domingo, 27 de novembro de 2011

Lampião nunca foi santo... nem gay, diz história

 Escrito por Xico Sá 

Lampião, símbolo do macho-jurubeba por excelência, teria sido gay.
Macho-jurubeba é o macho de raiz, o macho roots, como classifico na minha crônica de costumes.
Não quero defendê-lo de nada, até porque ser gay não é uma acusação. Cada um cada dois e isso é lindo.
A trajetória do bandoleiro, no entanto, não bate, segundo os relatos dos principais historiadores do cangaço, com a dita homoafetividade do cabra.
O eterno retorno da polêmica se deu agora com a proibição do livro “Lampião –o Mata Sete” , do juiz aposentado Pedro de Morais, de Aracaju -tudo começou, porém, com o antropólogo Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia, ainda nos anos 1990.
A justiça sergipana vetou, a pedido da família de Virgolino Ferreira da Silva (1897-38), o lançamento. A alegação: a honra do rei dos cangaceiros.
Se foi herói ou bandido, na visão dos parentes, é um debate histórico interminável. A suposta homossexualidade, no entanto, seria um crime contra a sua imagem.
Na visão do autor do livro proibido o bando era uma festa. Lampião mantinha um caso com o cangaceiro Pedro Mendes, que, por seu turno, transava com Maria Bonita.
Proibir a circulação de um livro é sempre um absurdo. Sou contra.
Quanto à homoafetividade... Não é o que parece, não convence.
Ouvi e reouvi pesquisadores como Frederico Pernambuco de Melo (“Guerreiros do Sol”) e Amaury Corrêa de Araújo (“Lampião: as Mulheres e o Cangaço) sobre o tema.
Eles sabem quase tudo sobre Virgolino. Além de estudos por décadas, conviveram e entrevistaram a maioria dos cabras e fêmeas do bando.
Talvez o pioneirismo de Lampião em certos usos e costumes deixe no ar a sugestão de que era gay.
Era difícil para um sertanejo da caatinga entender que um bandoleiro bordasse as suas indumentárias e apreciasse o perfume francês  Fleur d´Amour, como vemos no filme  “Baile Perfumado” (1997), dirigido por Lírio Ferreira e Paulo Caldas.
Outro grande tabu que o facínora quebrou foi o de aceitar moças no bando, até então era proibido no cangaço. A entrada de Maria Bonita liberou geral para todos.
A desconfiança da maioria era que a chegada das fêmeas fragilizasse o grupo. Isso não aconteceu.
O melhor dessa história é a forma como Maria amoleceu o coração lampirônico no momento em que o seguiu:
"Como é, quer me levar ou quer que eu lhe acompanhe?", sapecou a baiana de 19 anos -casada com outro à época-, deixando Virgolino , acossado, apaixonado, derretido, sem saída.

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